terça-feira, 30 de novembro de 2010

Modernização ou mudanças?


Modernização ou mudanças?
O uso das tecnologias da informação e comunicação pode imprimir na educação tanto a "modernização" como a "mudança" (Almeida, F., 2003):

A modernização está relacionada com a implantação de infra-estrutura tecnológica, como redes de computadores, laboratórios de informática, acesso à Internet, bem como a disponibilização de recursos multimídia para os alunos e professores, tais como lousas eletrônicas ou projetores multimídia.

A mudança pedagógica está proximamente relacionada com raízes mais profundas na educação e na emergência de novos paradigmas educacionais.




Inovar nem sempre significa mudar

"... não se pode esperar que as tecnologias da informação e comunicação funcionem como catalisadores dessa mudança, uma vez que não basta o rápido acesso a informações continuamente atualizadas nem somente adotar novos métodos e estratégias de ensino e de gestão."
(ALMEIDA, 2002. p.41)
A escola é desafiada também a ultrapassar a lógica da exclusão social, cujo mapa das desigualdades sobrepõe-se ao da exclusão digital, da pobreza e da violência. Buscam-se oportunidades de acesso e permanência aos espaços do ensino e a utilização de novas mídias e das tecnologias da informação e da comunicação.

Sob essa ótica, as instituições de ensino, para fazer frente às novas demandas e à formação de profissionais qualificados para uma nova e mais competitiva entrada no mercado de trabalho, cada vez mais seletivo e excludente, necessitam operar e já operam diversas adequações.

O acesso à escola e às tecnologias não é suficiente por si só para promover a mudança educacional, pois nem mesmo num primeiro olhar pode ser considerado democrático ou igualitário. A alteração e abertura das grades curriculares - uma mudança na ordenação, nos procedimentos e nos conteúdos - também não tocam novas melodias, pois se desenham como variações sobre um mesmo tema.

Vale dizer que, como o mundo globalizado não se equaciona mais com a escola, nem com as ofertas dos cursos universitários, o conhecimento científico-tecnológico e a pesquisa tornam-se as forças propulsoras, com imediatas repercussões nas áreas política e social. Isso acontece por meio do desenvolvimento decorrente da pesquisa formal e pelos esforços aplicados na produção de conhecimentos abstratos, por meio da educação formal e informal e do treinamento proporcionado pelas empresas.

Os países passam a ser classificados mundialmente pela possibilidade de geração e distribuição de conhecimentos bem como pela gestão do conhecimento produzido numa nova lógica de serviços que se impõe ao capital e à indústria.

Por um lado, a globalização da economia e os avanços tecnológicos demandam, cada dia mais, a alta qualificação. Os países que não conseguem se adequar rapidamente às novas exigências correm o risco de aumentar a defasagem social, econômica e cultural entre os mais e os menos desenvolvidos. A educação é, então, uma chave para o desenvolvimento sustentável e para o aumento da empregabilidade.

Por outro lado, as exigências de alta qualificação profissional e as demandas da sociedade são fatores de concentração de mercado, de renda, de competição global e de exclusão social.
Que Educação queremos?
"A mudança da qual falamos
É aquela que altera os rumos da sociedade, via educação
O que é a nova sociedade?
Com participação democrática nas decisões políticas,
Com justa distribuição de renda,
Com oportunidade de trabalho digno para todos,
Com equidade na fruição e produção da cultura,
Com liberdade de expressão e acesso à educação e saúde etc."
Almeida, Fernando. 2003, p.2
Renova-se, a cada dia, a discussão sobre a mudança educacional e não se contesta a necessidade de novos paradigmas. A polifonia das discussões em torno dos rumos, do alcance, da sua penetração e da sua estrutura é mais do que instigante, ela é convergente. Portanto, é necessário tomar as perspectivas, a partir de múltiplos olhares para compreendê-la.

No entanto, as necessidades de mudanças vão além: as instituições de ensino necessitam voltar seu olhar para dentro de seus muros e repensar, reorganizar e reposicionar sua própria estrutura e seu currículo.
"Não se trata de substituir a educação presencial pela virtual, mas de analisar as potencialidades de cada uma dessas modalidades e as possibilidades de criar uma dinâmica que as articule em um processo colaborativo... há necessidade de que as universidades propiciem o desenvolvimento de propostas inovadoras, assumindo uma postura de abertura e flexibilidade em relação a projetos criativos, ousados e desafiadores." ( ALMEIDA, 2001).
Propostas inovadoras, conforme aponta Almeida, estão também neste momento, relacionadas à incorporação das tecnologias da informação e comunicação na educação - presencial ou a distância. Essa incorporação somente se dinamiza por meio da apreensão dessas pelos docentes. Essa apreensão não se dá de imediato, ao simples contato, sem o entendimento de seu significado, seu alcance, suas potencialidades e limitações. Essa se dá por meio de processos de formação continuada no contexto que implicam e mesclam-se com a reflexão sobre os paradigmas e temas emergentes da educação.

A discussão sobre novos currículos e práticas educacionais torna-se fundamental neste cenário, pois de nada adiantaria trocar a roupagem de velhas práticas. Portanto, a inserção das tecnologias da informação e comunicação - presencial ou a distância - é entendida em conjunto com novas oportunidades para se repensar e redesenhar os currículos e traduzir novas práticas à luz da discussão de novas aprendizagens.

Na sociedade atual aprendente, a trajetória da aprendizagem é desenhada ao aprender. As novas aprendizagens não cabem em velhos currículos. Não se entende por currículo "grade curricular" que aprisiona um conjunto de disciplinas e dita os tempos e espaços escolares em pequenas unidades, muitas vezes desconexas. Mas os novos currículos estão relacionados ao currículo moldado pelo professor (Sacristán, 2000) que se transformam e se formam na ação, dando lugar a novas aprendizagens.
Desafios com as novas mídias
Texto de autoria do Professor José Manuel Moran

A Internet, as redes, o celular, a multimídia estão revolucionando nossa vida no cotidiano. As tecnologias são apenas apoios, meios. Mas elas nos permitem realizar atividades de aprendizagem de formas diferentes às de antes. Podemos aprender estando juntos em lugares distantes, sem precisarmos estar sempre juntos numa sala para que isso aconteça.

Ensinar e aprender com tecnologias telemáticas são desafios que até agora não foram enfrentados com profundidade. Temos feito adaptações do que já conhecíamos. O ensino presencial e a distância começa a ser fortemente modificados e todos nós, organizações, professores e alunos são desafiados a encontrar novos modelos em todas as situações. As tecnologias telemáticas, que começam a permitir ver-nos e ouvir-nos facilmente, colocam em xeque o conceito tradicional de sala de aula, de ensino e de organização dos procedimentos educativos.

Manter o currículo e as normas tal como estão na prática é insustentável. As secretarias de educação precisam ser mais pró-ativas e incentivar mudanças, flexibilização, criatividade.

Professores, alunos e administradores podem avançar muito mais em organizar currículos mais flexíveis, aulas diferentes. A rotina, a repetição, a previsibilidade, tudo isso é uma arma letal para a aprendizagem. A monotonia da repetição esteriliza a motivação dos alunos.

São muitos os recursos à nossa disposição para aprender e para ensinar. A chegada da Internet, dos programas que gerenciam grupos e possibilitam a publicação de materiais estão trazendo possibilidades inimagináveis vinte anos atrás. A resposta dada pela escola até agora ainda é muito tímida, deixada a critério de cada professor, sem uma política institucional mais ousada, corajosa, incentivadora de mudanças. Está mais do que na hora de evoluir, modificar nossas propostas, aprender fazendo.

Todos os que estamos envolvidos em educação precisamos conversar, planejar e executar ações pedagógicas inovadoras, com a devida cautela, aos poucos, mas firmes e sinalizando mudanças. Sempre haverá professores que não querem mudar, mas uma grande parte deles está esperando novos caminhos, o que vale a pena fazer.

Se não os experimentamos, como vamos a aprender?
Não basta tentar remendos com as atuais tecnologias. Temos quer fazer muitas coisas diferentemente. É hora de mudar de verdade e vale a pena fazê-lo logo, chamando os que estão dispostos, incentivando-os de todas as formas - entre elas a financeira - dando tempo para que as experiências se consolidem e avaliando com equilíbrio o que está dando certo. Precisamos trocar experiências, propostas, resultados.




Síntese

Uma das reclamações generalizadas de escolas e universidades é de que os alunos não agüentam mais nossa forma de dar aula. Os alunos reclamam do tédio de ficar ouvindo um professor falando na frente por horas, da rigidez dos horários, da distância entre o conteúdo das aulas e a vida.

Colocamos tecnologias nas escolas, mas, em geral, para continuar fazendo o mesmo de sempre - o professor falando e o aluno ouvindo - com um verniz de modernidade.

As tecnologias são utilizadas mais para ilustrar o conteúdo do professor do que para criar novos desafios didáticos.

O cinema, o rádio, a televisão trouxeram desafios, novos conteúdos, histórias, linguagens. Esperavam-se muitas mudanças na educação, mas as mídias sempre foram incorporadas marginalmente. A aula continuou predominantemente oral e escrita, com pitadas de audiovisual, como ilustração. Alguns professores utilizavam vídeos, filmes, em geral como ilustração do conteúdo, como complemento. Eles não modificavam substancialmente o ensinar e o aprender, introduziam um verniz de novidade, de mudança, mas era mais na embalagem.

O computador trouxe uma série de novidades, de fazer mais rápido, mais fácil. Mas continua sendo utilizado mais como uma ferramenta de apoio ao professor e ao aluno. As atividades principais ainda estavam focadas na fala do professor e na relação com os textos escritos.

Hoje, com a Internet e evolução tecnológica, podemos aprender de muitas formas, em lugares diferentes, de formas diferentes. A sociedade como um todo é um espaço privilegiado de aprendizagem. Mas ainda é a escola a organizadora e certificadora principal do processo de ensino-aprendizagem.

Ensinar e aprender estão sendo desafiados como nunca antes. Há informações demais, múltiplas fontes, visões diferentes de mundo. Educar hoje é mais complexo porque a sociedade também é mais complexa e também o são as competências necessárias. As tecnologias começam a estar um pouco mais ao alcance do estudante e do professor. Precisamos repensar todo o processo, reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o que vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados.


Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Fernando J. Notas de aula da disciplina do curso de pós-graduação em Educação:Currículo da PUC SP. São Paulo: 2003.

____________. Aprendizagem colaborativa: o professor e o aluno ressignificados. In: ALMEIDA, Fernando (organizador). Educação a distância: formação de professores em ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem. MCT/PUC SP São Paulo. 2001.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A ERA DA INFORMAÇAO: ECONOMIA, SOCIEDADE E CUL V.1. São Paulo. Editora Paz e Terra. 2003.

ALMEIDA, Maria Elisabeth B. Formando professores para atuar em ambientes virtuais de aprendizagem. In: ALMEIDA, Fernando (organizador). Educação a distância: formação de professores em ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem. MCT/PUC SP São Paulo. 2001.

PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar . Porto Alegre. Ed. Artmed.

RAMAL, Andréa. Educação na Cibercultura . Porto Alegre. Ed. Artmed. 2003.

RUIZ, Osvaldo. Manuel Castells e a "Era da Informação". 2002. http://www.comciencia.br/reportagens/internet/net16.htm#1. Acesso em 20/08/2005.




Acesso em 01/11/2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo plenamente que a tecnologia não deve ser um remendo e nem uma ilustração a mais nas aulas do professor, ou como um verniz, e infelizmente as tecnologias estão sendo utilizadas para esse fim, o que não é correto, cabe a nós coordenadores e técnicos de NTMs, propor mudanças, provocá-las nos nossos colegas, lançar desafios, dar uma chacoalhada mesmo, pois a concorrência esta é sadia, assim quem sabem alguns acordam...